Início Quadrinhos A Idade de Ouro, de Roxanne Moreil e Cyril Pedrosa

A Idade de Ouro, de Roxanne Moreil e Cyril Pedrosa

Uma fábula social poderosa

Lançados no Brasil em 2022, A Idade de Ouro de Roxanne Moreil e Cyril Pedrosa conta com dois volumes, publicados pela Editora Nemo. O quadrinho francês, vencedor de prêmios, como: Prix Landerneau 2018 e o Prix de la BD Fnac/France Inter 2019, chamou atenção por seu contexto social enquanto fábula, ambientado na era medieval. Além do forte viés social, a obra discute temas como: feminismo, luta de classes e política.

Tilda é a filha do Rei de Antrevers e agora ele está morto. A Princesa, deveria assumir o legado de seu pai e se tornar a nova governante, porém, um golpe idealizado por seu irmão mais novo, sua mãe e alguns outros traidores da coroa, transforma Tilda em prisioneira, do seu próprio irmão.

Nem mesmo o golpe dado por seu irmão, foi capaz de afastar Tilda de cumprir a vontade do seu pai. Fugitiva e contando com a ajuda dos seus dois amigos mais leais: Tankred e Bertil, os três partem numa grande aventura pelas terras do reino e em busca de aliados, o que se mostrará ao longo dos dois volumes de A Idade de Ouro, uma decisão complexa e rodeada de segredos. Tilda é uma personagem construída a partir do desenvolvimento da narrativa textual e de imagens, idealizadas por Roxanne Moreil e Cyril Pedrosa. Esse contexto pode ser considerado óbvio, mas, é interessante como ela vai sendo desconstruída ao longo da obra, mantendo sua jornada de heroína, repleta de altos e baixos.

Ao não ser colocada como vítima de sua própria história pessoal, Tilda, passa por alguns enfrentamentos, onde a justificativa da desistência, seriam esperados, porém, não para ela. A Idade de Ouro pode causar no leitor uma impressão de simplicidade em seu desenvolvimento. Enquanto a jornada de alguns personagens e principalmente da protagonista parecem assumir uma mistura de poesia medieval e épica, onde se exalta valores, virtudes e ações corajosas dos cavaleiros, ele também caminha por uma estrutura de poesia lírica, sem perder o que podemos considerar como elemento principal da jornada de Tilda e seus aliados: uma boa fantasia.

A jornada da protagonista, iniciando com o golpe dado por seu irmão, posteriormente seu exílio, finalizando com sua fuga, são elementos inspirados na literatura medieval que se consolidou na França, reverberando por toda a Europa, principalmente entre os séculos XI e XII. A história de Tilda conta com uma cadência que é possível perceber em obras, atualmente disponíveis, e que narram exatamente a ambiguidade em que eram refletidos os valores humanos, políticos e sociais da época.

É interessante como A Idade de Ouro, apesar de figurar entre uma clássica história medieval, estabelece conexão com os principais pontos de conexão para histórias clássicas da literatura mundial, mesmo que enraizado nos elementos locais, da França. Isso reflete até mesmo na composição dos personagens, que assumem posições contrárias às conhecidas por outras obras. Desde a protagonista que foge do estereótipo da mocinha injustiçada e ganha camadas contemporâneas.

Como recurso narrativo, A Idade de Ouro conta com uma arte que foge dos padrões. Desde a escolha das cores que chamam atenção, os personagens em alguns momentos são retratados de forma a sugerir uma hierarquia entre eles. É possível observar essa diferença, comparando o primeiro e segundo volume. A obra utiliza de um outro recurso que movimenta não apenas as ações dos personagens, chamado Splash Pages, bem como, o grande plot que o envolve, o livro A Idade de Ouro, que seria responsável, dentro da trama, de trazer a paz absoluta de volta ao Reino de Antrevers.

O que de fato é uma junção de muito bom gosto, recorre às Splash Pages conectando-a com cores e movimentos, que solidificam todo o contexto da Princesa Tilda e sua jornada. A Idade de Ouro apresenta ao leitor uma fábula social que busca através das prerrogativas básicas que definem que uma história é de fato uma fábula, com temas relevantes. O quadrinho se apossa de uma contemporaneidade crucial para o seu desfecho.

Não se deixe enganar pela temática fantasiosa do quadrinho. A Idade de Ouro utiliza muito bem diálogos e artes para apresentar ao leitor uma perspectiva realista que discute diversos assuntos relevantes à sociedade que vão além do conto de histórias de épicas.

★★★★
A Idade de Ouro conta com roteiro e arte de Roxanne Moreil e Cyril Pedrosa e foi lançado no Brasil em 2022 pela Editora Nemo, com tradução de Renata Silveira.

Este post está disponível no Instagram, confira abaixo:

Deixe um comentário

Você também pode gostar destes posts

Quadrinhos

A Fortaleza Móvel & O Mundo Subterrâneo, de Enrique Alcatena e Ricardo Barreiro

Desde que começou seus trabalhos como Editora, a Pipoca e Nanquim talvez...

Quadrinhos

Mamãe Está com Câncer, de Brian Fies

Quadrinhos que exploram a realidade, às vezes nem sempre crua, é no...

Quadrinhos

Fun Home: Uma Tragicomédia em Família, de Alison Bechdel

Quadrinhos talvez sejam uma das maneiras mais complexas e assertivas, quando existe...

Quadrinhos

Depois da Prisão em Massa, de Arnaud Delalande e Laurent Bidot

Talvez uma das frases que mais fazem sentido no quadrinho Depois da...