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O último sorriso na cidade partida, de Luke Arnold

O livro de estreia do autor Luke Arnold é reforçado por seu grande potencial narrativo, apesar dos deslizes

O gênero fantasia em suas diversas classificações, ainda é um mundo incerto para os leitores brasileiros, sempre associado a livros extensos: seja pelo número de páginas ou pelas diversas continuações. Fato é que, apesar de explorado por algumas editoras, é de longe, um gênero que o leitor encontra bons lançamentos todos os meses no Brasil. Algumas feridas foram abertas pelo próprio mercado editorial, que fazia grande alarde sobre algumas publicações, lançava o primeiro volume e depois as continuações nunca chegavam, a desculpa era sempre a mesma, o número de vendas. Editoras que navegam contra a maré, como Galera Record, Morro Branco e mais recentemente a Trama, são responsáveis pelas principais publicações. Entre os lançamentos realizados pela Editora, O último sorriso na cidade partida, de Luke Arnold, ganhou uma versão nacional.

O último sorriso na cidade partida é apenas um dos vários lançamentos do gênero fantasia, trazidos pela Editora Trama ao Brasil em 2021. A publicação que se enquadra como fantasia urbana é escrita por Luke Arnold, ator conhecido por sua participação na série Black Sails. O primeiro livro da trilogia ‘os arquivos de Fetch Phillips’, apesar do longo título apresenta uma jornada introdutória ao mundo criado por Luke, de forma consistente, ainda que não seja uma reinvenção dentro do gênero que se propõe em estruturar a história de seus personagens.

Fetch Phillips é o protagonista de ‘O último sorriso na cidade partida’ e diferentemente do que se possa esperar, o personagem foge do padrão do mocinho que está se descobrindo, afinal de contas estamos falando de uma fantasia. No livro, Fetch se descreve como um faz tudo, mais especificamente como um investigador, dentro de um mundo, que vive uma ressaca de seres mágicos extintos (seja por que morreram ou perderam seus poderes) em sua grande maioria. Um grande evento, conhecido como Coda, é o ponto divisor da ação de todos os personagens, uma vez que é sempre citado, de forma insistente.

Contratado para investigar o desaparecimento de dois personagens do livro, o investigador, assim como pode se esperar, depois de algumas páginas dedicadas à sua descrição a la bad boy, vai de personagem chato ao salvador da pátria. Propositalmente ou não, o protagonista assume sua posição, enquanto recurso narrativo do livro, escancarando ser um mix de inspirações do seu criador, Luke Arnold. Apesar de não haver uma confirmação oficial, o personagem lembra uma das principais investigadoras da Marvel Comics em muitos aspectos, Jessica Jones. A marra de Fetch Phillips em quase todas as aparições e falas em ‘O último sorriso na cidade partida’ tem no resumo da obra um resultado positivo.

Como parte da construção deste novo universo, o leitor pode esperar do livro ‘O último sorriso na cidade partida’, uma jornada interessante, mas pouco inovadora, por parte do escritor. Luke Arnold bebe de muitas fontes ao escrever o livro e estabelecer o universo dos personagens. O livro se concentra muito nas referências do que já deu certo para outros autores, muito mais do que, estabelecer seus próprios elementos narrativos. Isso não é um problema, mas a sensação de estar lendo, mais do mesmo, persiste ao avançar do livro.

A trama do livro se desenvolve de forma objetiva, ao longo de suas 304 páginas, sendo positivo, a divisão dos capítulos, excesso de diálogos e falta de cenas descritivas. A conexão entre personagens e leitor é perdida em alguns momentos dos livros, que oscila e derrapa em muitos momentos. Apostar no clichê pode ser um caminho que pode tornar a jornada de personagens problemáticas ou não, e como ‘O último sorriso na cidade partida’, no final das contas é um grande emaranhado desses tributos, que inspiraram o autor enquanto concebia seu próprio universo, ele se torna confuso em alguns momentos.

Luke Arnold apesar dos deslizes mostra que ‘O último sorriso na cidade partida’ tem grande potencial. O autor certamente é vítima de sua primeira experiência escrevendo um livro e pode melhorar em suas próximas incursões, seja, dentro da trilogia ‘Os arquivos de Fetch Phillips’ ou até mesmo em próximas obras, cabe ao leitor, ter paciência ou não, em todo o processo. A aposta da Editora Trama no livro pode ser considerada certeira, para atingir outros públicos e acompanhar o amadurecimento dos leitores brasileiros dentro do gênero, que ainda não se consolidou. Fica a esperança que Fetch Phillips, se torne protagonista de sua própria jornada e abandone os clichês de sua personalidade bad boy no próximo livro.

★★★
O último sorriso na cidade partida, de Luke Arnold conta com 304 páginas e foi lançado no Brasil em 2021 pela Editora Trama, com tradução de Giu Alonso.

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