O Oceano no Fim do Caminho começa mostrando um homem de meia-idade retornando para sua cidade natal para um funeral. Esse retorno acaba lhe trazendo algumas lembranças já enterradas em seu passado. Inserindo esses acontecimentos com o presente, uma série de flashbacks são propostos ao leitor, de forma com que a experiência da leitura seja ampliada. Sem dar nome ao personagem, somos posteriormente apresentados ao George, o Gracioso. Retornando à sua cidade e revivendo aspectos importantes da sua infância, o livro é como se quisesse ser lido de trás para frente, mas em ordem inversa.
Neil Gaiman é um dos meus autores preferidos. Sua escrita é sem dúvida alguma, fluída e objetiva. Sua objetividade não compromete suas publicações, pelo contrário, cria um laço entre personagens e leitores, quase inquebrável. A sensação que ele proporciona aos seus leitores, não chega próximo a outros leitores.
Um dos cenários mais importantes da publicação, acontece na Fazenda Hempstock, onde conheceu sua única e melhor amiga, Lettie Hempstock, uma jovem de 12 anos, que vive com sua mãe e avó. Com o avançar da leitura, algumas explicações que nos levam a entender o título do livro, entre elas: o lago que fica na fazenda, que quando criança foi convencido que se tratava de um Oceano.
Gaiman sabe como ninguém como mesclar em seus livros a realidade com fantasia. Sua experiência como roteirista de quadrinhos e sua vasta experiência com seus outros livros, fez com que esta mistura, agregasse ao desenvolvimento do seu livro, fazendo com que o leitor questione-se em muitos momentos sobre a real intenção do autor e o quão bom é o resultado desta mistura. A descrição de nosso protagonista aos poucos vai sendo revelada, como os problemas financeiros que sua família enfrenta, tornando- o um jovem introspectivo e solitário. Suas aventuras é sua válvula de escape, que com o apoio de Lettie, tornam-se ainda mais frequentes ao longo do livro.
O livro sempre mostra tudo pelo ponto de vista do protagonista, até mesmo as interações de outros personagens, são mostradas pelo seu ponto de vista. Isso abre possibilidades para que o autor possa desenvolver melhor a trama, não necessitando descrever tanto os demais personagens, focando mais na trama, já que 208 páginas poderiam comprometer o andamento de cada personagem, e essa saída foi sensacional.
A superficialidade é elevada há outro nível neste livro. No início, a história quase se perde preocupada em apresentar diversos elementos do passado do protagonista, mas que foi facilmente contornado pelo autor, graças ao seu talento. A relação de Neil Gaiman é de extrema confiança, quando algumas de suas histórias mostram um início complexo e superficial, o livro tem uma mudança em seu plot e acaba surpreendendo-nos, fazendo com que ao final, sejamos pegos de surpresa pelo desfecho da história.
Se você ainda não leu nenhuma obra do Neil Gaiman, essa é uma porta de entrada e tanto. Como uma trama ágil, o livro leva o leitor a questionamentos que apenas o autor é capaz de fazer. Em boa forma e com personagens cativantes, é uma leitura para sair da rotina e devorá-la em apenas um dia.
★★★★
O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman, conta com 208 páginas e foi lançado no Brasil em 2013 pela Editora Intrínseca, com tradução de Renata Pettengill.
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