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Depois da Prisão em Massa, de Arnaud Delalande e Laurent Bidot

Talvez uma das frases que mais fazem sentido no quadrinho Depois da Prisão em Massa, é Nunca aceitem o inaceitável! A frase que inicialmente pode parecer clichê, envolvendo ao debater a temática sobre a repressão aos judeus, ainda assim está longe de definir toda a mensagem por trás da publicação. Com roteiro competente e arte tão forte quanto se deve ser, a publicação narra as memórias de Joseph Weismann, uma criança de 11 anos que viveu os horrores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Sem necessidade de contextualização, os horrores nazistas que marcaram a história dos judeus ainda fazem parte dos livros de história. Muito mais do que falar sobre esse momento delicado, Depois da Prisão em Massa é um relato intimista sobre os olhares de quem basicamente perdeu tudo, seja bem material e principalmente seus entes queridos. O que pode ser considerado um quadrinho curto, suas pouco mais de 120 páginas, são suficientes, para que as memórias de Joseph Weismann, sejam recontadas e de certa forma possam chegar nos mais diversos públicos.

Em 16 de julho de 1942, a França anunciou a prisão dos judeus em Paris. O país no auge da Segunda Guerra Mundial, era uma espécie de mão colaborativa do regime nazista e prontamente iniciou o que seria um dos maiores desastres civis do país. Isso coloca nosso protagonista no cerne de uma verdadeira catástrofe que seria o início de um grande trauma. Ele e sua família seriam enviados ao Velódromo de inverno, onde seriam mantidos por alguns dias, sem qualquer condição humanitária, e posteriormente transferidos para centros de concentração.

Joseph, juntamente com seu pai, mãe e duas irmãs, seriam enviados para os chamados Campos de Triagem. Apesar do contexto familiar ser muito forte em Depois da Prisão em Massa, o protagonista do quadrinho, fala sobre seus entes queridos, em poucos momentos, fazendo com que apareçam na história, apenas quando necessário. O que é justificável, uma vez que as cicatrizes deixadas por estes acontecimentos, o perseguem até hoje. Com muito cuidado o roteiro do quadrinho se desenvolve sob o olhar do protagonista, se passando em dois momentos diferentes: passado, presente e futuro.

Depois da Prisão em Massa é uma desconstrução delicada da vida de Joseph Weismann. Muito mais do que chocar com os horrores que o nazismo trouxe para o seu povo e as perdas pessoais que assombraram o protagonista por ano, a publicação é certeira em muitos aspectos, sendo o primeiro deles, sobre a conscientização e reparação histórica, que mesmo que aconteçam, nunca vão de fato consertar as ações do passado, apenas prevenir o presente e o futuro.

Arnaud Delalande (roteiro) e Laurent Bidot (arte) fizeram um bom trabalho, e conseguiram traduzir as emoções de Joseph Weismann sem apelar para o sensacionalismo. A riqueza de detalhes, bem como as camadas de cada diálogo e utilizar o desprendimento gráfico para conceber o quadrinho, a partir de um relato pessoal e real, fazem de Depois da Prisão em Massa, um relevante registro histórico. Ao apresentar a jornada de uma criança que perde sua família para o nazismo, ambos prospectam de forma cuidadosa o que nosso protagonista passou ao longo dos anos, desde sua fuga, o preconceito que passou ao longo dos anos e a tentativa das pessoas de se beneficiar sobre as sequelas que Joseph Weismann, carregou consigo ao longo dos anos.

Trabalhos como Depois da Prisão em Massa vão muito além da necessidade do relato histórico e de mostrar o quão problemático, alguns momentos da história do mundo, deveriam ser inconcebíveis, mas infelizmente aconteceram. A frase utilizada pelo protagonista ao final do livro, explica muito os horrores de uma guerra podem trazer e principalmente o que aconteceu com os judeus ao longo da história, por isso, nunca aceitem o inaceitável!.

★★★★★
Depois da Prisão em Massa, de Arnaud Delalande e Laurent Bidot, conta com 128 páginas e foi lançado no Brasil em 2023 pela Editora LeYa, com tradução de Maria Aparecida Marques.

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