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Poulbots, de Patrick Prugne

Poulbots é um típico quadrinho francês, não apenas por suas características técnicas, mas principalmente por seu tema principal. Escrito e desenhado por Patrick Prugne, estreante em solo brasileiro, Poulbots é um resgate do Montmartre em Paris. O que temos à nossa disposição é uma apresentação ao público brasileiro, inicialmente por pegar pela primeira vez de forma oficial uma obra de Prugne e, por outro lado, conhecer essa história que faz parte do imaginário local na França.

Diante de uma fábula urbana, o roteiro do quadrinho não tem um herói, mocinho ou vilão. Seus personagens de modo geral são colocados para contar uma história, que tem muito mais ligação com o lugar do que em construir a jornada de um herói, para qualquer uma das vozes que são apresentadas, ao longo de menos de 80 páginas.

Patrick Prugne tem uma arte muito própria que conduz Poulbots para outro nível. As escolhas das cores, bem como a técnica utilizada para transformar os diálogos e quadros, em muito mais do uma narrativa corrida, coloca sua obra em outro patamar. Barbante, Gelatina, Manon, Marco e Tampinha, são cinco crianças rebeldes, que lutam pelo avanço de uma possível ‘especulação imobiliária’ em seu bairro e que tentam defender o seu direito à moradia.

Apesar da arte ser um destaque à parte, não se deixe enganar pelo poderoso contexto social que a jornada destes pequenos rebeldes se revelarão. O quadrinho é um retrospecto claro aos acontecimentos que se tornaram drásticos à população da França com o avançar da Primeira Guerra Mundial. Em contraponto ao desenvolvimento que se espera de Montmartre, os cinco pequenos rebeldes buscam de uma forma alegórica uma chance de sair da pobreza, com a reprodução de sapos, mais diretamente com a ajuda de Bismarck.

Nas entrelinhas, a cultura oriental tem uma relação de muitos significados com sapos. O Sapo da Fortuna, lenda disseminada localmente, fala sobre a representação mística, que atrai prosperidade para quem o possuir. É um contraste interessante o objetivo dos cinco rebeldes, ao que momento em que eles estão prestes a perder os seus lares. Ainda que não seja algo presente em sua cultura, Patrick Prugne estrutura de forma convincente e conecta esses elementos.

Entre acontecimentos que conectam um promotor imobiliário e seu filho aos cinco Poulbots protagonistas do quadrinho, há uma clara homenagem a Francisque Poulbot (1879-1946), nome que foi responsável não apenas para apresentar ao mundo, crianças que compartilham de sua origem, mas também Montmartre.

Não distante da crítica social e como ações predatórias colocaram diversas crianças em situações de riscos, Poulbots conta com um final inesperado. A fábula urbana é consciente e aborda a luta de classes e a violências nos lares, que indiretamente eram reflexos de tempos sombrios que se aproximavam. Indiretamente, o quadrinho trata sobre o amadurecimento frente aos desafios. Obviamente que por se tratar de uma fábula, muitas soluções são fantasiosas, ainda assim, despertam alguma reflexão.

Tudo em Poulbots é uma grande inspiração e homenagem às crianças imortalizadas por Francisque Poulbot (1879-1946), na sua querida Montmartre. Com arte impecável e roteiro consistente, Patrick Prugne abre os olhos do leitor para uma realidade, que não é muito distante em algum momento.

★★★★
Poulbots de Patrick Prugne, conta com 80 páginas e foi lançado no Brasil em 2024 pela Editora Taverna do Rei, com tradução de Renata Silveira.

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