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Virgem Depois dos 30, de Atsuhiko Nakamura e Bargain Sakuraichi

O mercado de publicações de mangás no Brasil, passou nos últimos anos por uma espécie de reformulação. Obviamente, refletindo a maturidade do mercado, as editoras conseguem apostar em títulos, que anos atrás, seriam basicamente impossíveis, de ganhar uma versão oficial. Com o crescimento do mercado, o que se traduz, em novas editoras apostando em mangás e a renovação do público-alvo, obras como o Mangá-Documentário: Virgem Depois dos 30, lançado em 2019 pela Editora Pipoca e Nanquim, reforce a ideia, de que títulos como este, se tornaram uma realidade e uma grande aposta da própria editora, como um aceno promissor aos mangás mais diferentes.

Mostrando uma realidade distante da sociedade brasileira, que dificilmente discute a temática do mangá Virgem Depois dos 30, o Japão se mostra aberto às mais diversas temáticas e o aspecto de se levantar uma discussão sobre os homens de meia-idade, que ainda não tiveram sua primeira experiência sexual e falando mais diretamente de experiências heterossexuais, é alvo de uma preocupação da sociedade japonesa na totalidade. A estimativa é que de um em cada quatro homens solteiros de meia-idade no Japão, não tenham tido sua primeira experiência sexual, popularmente conhecido como os virgens de meia-idade.

Ao contrário do que se possa imaginar, Virgem Depois dos 30, idealizado por Atsuhiko Nakamura, a partir de uma experiência traumática com um virgem de meia-idade, que inclusive inspirou a primeira história do mangá, não foi originalmente pensado para ser um mangá. Primeiramente as histórias pesquisadas por Atsuhiko, foram publicadas no site da editora Gentosha, onde foram posteriormente compiladas, dado o sucesso e interesse do público, publicadas em formato de livro. Apenas depois, uma adaptação em mangá, com arte de Bargain Sakuraichi, foi lançada. O que em anos, poderia ser um tipo de título que seria dificilmente lançado no Brasil, o seu potencial foi notado e a publicação aconteceu.

Virgem Depois dos 30, ao longo de oito capítulos, focados basicamente em contar a história de um virgem de meia-idade, sob a percepção de Atsuhiko Nakamura, a partir dos relatos reais de cada protagonista dos capítulos. Além do fato, de causar certo interesse, simplesmente pelo fato de ser um mangá-documentário, as histórias ainda que bizarras e cheias de nuances, que poderão conectar o leitor ou não, há uma visão, diferente da sociedade brasileira, mas comum na japonesa. Certamente, o primeiro sentimento, é o choque cultural que a leitura propicia ao leitor ao longo do seu desenvolvimento.

Acompanhar cada personagem do mangá, torna a leitura de Virgem Depois dos 30, uma leitura sem grandes obstáculos, afinal de contas, acredite ou não, são histórias reais, utilizando um meio convencional de adaptação. Retirada a ideia de que possa existir qualquer exagero no desenvolvimento do mangá, Atsuhiko Nakamura, estrutura muito bem, a jornada de cada um de seus protagonistas, apresentando histórias que possuem apenas um ponto em comum e que dá título ao mangá, mas, o desenvolvimento de cada personagem, conta com desfechos à cada página, totalmente diferentes e interessantes. Este tipo de mangá, não agrada a todos.

A premissa que não é um mangá para todos, mesmo que faça sentido, ao final da leitura, não deve ser considerada, como ponto referencial ao decidir ler ou não Virgem Depois dos 30. O mangá, além das várias reflexões, tem um ponto ainda mais importante, o bom senso de entender um pouco mais sobre a cultura de outros países, que querendo ou não divergem da nossa realidade.

Atsuhiko Nakamura estrutura o roteiro do mangá Virgem Depois dos 30, com muita referência bibliográfica e principalmente com dados que de fato são estudados no Japão e isso engrandece e complementa a leitura. A arte de Bargain Sakuraichi, traduz muito bem, toda a mensagem que o mangá precisa trabalhar, sem apostar em traços óbvios de personagens, trazendo uma característica underground à obra, fazendo com que roteiro e arte, estejam muito bem alinhados e positivamente, contribuam com a imersão do leitor no tema. Apesar de poucas publicações do tipo mangá-documentário no Brasil, Virgem Depois dos 30, é como dito anteriormente um aceno muito promissor a este tipo obra, não apenas pelo fato de sua classificação, mas sim, pelas discussões e visões sobre o mundo, que podem retirar o leitor do marasmo.

★★★★
Virgem Depois dos 30, de Atsuhiko Nakamura e Bargain Sakuraichi, conta com 244 páginas e foi lançado no Brasil em 2019 pela Editora Pipoca e Nanquim, com tradução de Drik Sada.

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